A crise da espiritualidade viril
Um dos aspectos negligenciados quando se fala em masculinidade é a vida espiritual. Muito se escreve sobre musculação, esportes, defesa pessoal, conquistar mulheres e todo os assuntos relacionados ao emprego da força física seja como for. Como se todos devessem ser rambos, braddocks ou gladiadores. Essa ênfase exagerada na força bruta acaba secundarizando outro aspecto importante que é a mente. O homem deve também desenvolver sua mente de forma plena: lendo, estudando e se preparando para sua vida profissional com o conhecimento necessário para tal tanto quanto para o bem viver e pensar sua realidade. Mas, esse desenvolvimento também é desviado apenas para assuntos como política, estudo de uma virilidade antiga quase sempre relacionada a força, guerras e proezas físicas numa tentativa de reviver uma masculinidade adormecida e abandonada pela contemporaneidade. No fim da fila vem a espiritualidade muitas vezes apenas como uma citação quando não totalmente ausente da vida viril suplantada pela materialidade da vida atual.
Os modernos discursos espiritualistas sentimentais também não ajudam a atrair os homens. Hoje não faltam "líderes" espirituais efeminados que transformam o cristianismo apenas numa descarga emotiva e lânguida cheia de firulas sentimentais e gestos emasculados. Nada atrativos a masculinidade e sua virilidade ativa. Muito do que vem a mente quando se pensa em oração por exemplo é alguém de joelhos, cabeça baixa, mãos unidas em súplica e lágrimas aos olhos numa posição de total passividade com emoções a flor da pele.
Precisamos nos reeducar também no que diz respeito a nossa vida espiritual se realmente queremos desenvolver-nos como homens viris. A simples adesão racional há uma crença não vai nos trazer uma vida espiritual. A razão pode intelectualizar, julgar, raciocinar a realidade das coisas sensíveis e metafísicas, mas, não pode conhecer empiricamente os tesouros espirituais. Apenas com nosso espírito, trabalhando nosso homem interior poderemos enxergar e viver essas realidades impalpáveis e transcendentes. Corpo, mente e espírito devem estar trabalhando em conjunto e sendo desenvolvidos em conjunto. Quando negligenciamos um aspecto e supervalorizamos o outro causamos hipertrofias e atrofias em nossas características naturais.
A fé sem obras é morta, afirma o Santo Apóstolo Tiago. De nada serve uma fé que não lhe motiva a nada. A razão com todas as suas provas científicas sobre os mais diversos temas não motiva por si só o homem a desenvolver-se. A verdadeira fé motiva o homem a ações. Mesmo que essa fé seja sobre algo equivocado ela vai lhe dar o ímpeto de levantar-se e ir em direção a algo. Homens já travaram guerras para defender a sua fé do escárnio, enfrentaram longas jornadas em busca de transcendência, se isolaram do mundo numa vida ascética em desertos, montanhas e em lugares desolados em busca de Deus, tantos outros mártires deram suas próprias vidas ao se negarem abandonar sua crença em Cristo.
A espiritualidade viril deve ser ativa
Não vamos todos sair por ai em busca de conflitos e guerras para provar nossa fé nem desenvolver nossa espiritualidade, mas, devemos ter ações que estão em nosso alcance. Assim como o navegadores que antes da partida celebraram uma Missa pedindo a benção de Cristo, devemos ter em nosso dia algo ativo e real que eleve nossa espírito.
O ponto inicial não pode ser outro além da oração. Devemos orar e aprender a fazê-lo é fundamental para não cairmos naquela fé afeminada que falamos anteriormente. Buscar a Deus através da oração é algo que todo cristão deve ter como meta. De nada adianta dizer que crê nisso ou naquilo se você não pratica. Todas as religiões tem alguma forma de comunicação com Deus em todos os povos e todos os lugares do mundo, seja qual for a crença o homem busca se comunicar com Deus, mesmo que seja o silêncio do ateísmo.
Seja ativo, leia as Sagradas Escrituras. Não leia como quem estuda um artigo científico, mas, como a Palavra de Deus. Tente através destas leituras ver como ser melhor na prática. Cristo nos ensina a sermos misericordiosos, mansos, benevolentes se não buscamos isso com ações é apenas um conhecimento racional vazio. Alimente um mendigo, lhe dê um bom dia, seja generoso com as pessoas, desenvolver o espírito envolve crescimento humano. Sem perder a virilidade. Quando Cristo encontrou mercadores no Templo, não pensou duas vezes, fez um chicote e os enxotou dali a força, mas, sempre que encontrava um necessitado lhe prestava socorro, quando não materialmente, como quando multiplicou os pães e os peixes, espiritualmente com seus sermões e ensinamentos..
Lidere sua família espiritualmente. O homem deve liderar sua família em todos os aspectos. Se você é o provedor material e se abstêm das questões religiosas legando a sua mulher você a sobrecarrega. Devemos passar nossos valores a nossos filhos, isso inclui a educação moral e religiosa deles. Não se abstenha. Atitudes simples podem modificar e muito a relação dos seus filhos com a fé. Faça pelo menos uma oração familiar no dia. Pode ser ao acordar, antes de dormir, antes de alguma das refeições ou antes de todas. Não perca uma oportunidade e lidere essa oração. Tome a frente crie uma cultura familiar espiritual. Se a fé pode unir povos que são estruturas sociais complexas imagine o bem que pode fazer com uma família. Pense nisso.
Participe dos ritos comunitários. Você vai a igreja? Não. Pois passe a ir. Nossas tradições religiosas são legados de nossos ancestrais, não é algo desvinculado no tempo ou espaço. Isso quer dizer que há uma comunidade de outras pessoas que também creem como você, se una a elas. Não fique sozinho é um oportunidade de integrar-se, de aprender com os mais velhos e instruir os mais jovens. Não estou dizendo para você se filiar a uma instituição qualquer, mas, que procure fazer partes das práticas e ações que são comuns. Foi isso que os portugueses fizeram na Primeira Missa. Nessa viagem também havia um muçulmano, certamente ele não tomou parte na celebração lhe faltava a comunidade. Na comunidade os laços entre você e seus irmãos e irmãs será fortalecido.
Vamos encarar a espiritualidade como um dos três pilares da nossa masculinidade. Nossa força desenvolvemos através de exercícios, nosso intelecto através do estudo e o espírito através da oração. Não negligenciem esses aspectos, pois, a crise da masculinidade hoje é profundamente espiritual, mais que qualquer outra coisa.
Semper Virilis
Paulo disse na Carta als Efésios: Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela. Ser homem é se sacrificar pela familia ou algo que valha a pena. Se sacrificar não combina com passividade; Jesus não ficou apenas orando, ele agiu.
ResponderExcluirHoje quando se pensa em igreja se pensa em local para pedir ou receber, que são atividades passivas, quase nunca local para se dar. Ser homem e se sacrificar, é dar, ser ativo e não passivo. As igrejas deveriam focar menos nas orações e nos pedidos e mais nas atividades de doação ativa, pra animar mais os homens.